quinta-feira, 6 de junho de 2013

Portal de Comunicação da Universidade do Minho

Portal de Comunicação da Universidade do Minho:

O ensino superior é fundamental para o desenvolvimento do país - Entrevista a Vieira ... 
segunda-feira, 03-06-2013
Diário Económico / Emprego & Universidades
O Santander apoia a criação do espaço ibero-americano de ensino superior que é essencial para que se transforme num bloco económico forte, diz Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta.

Madalena Queirós

Cerca de cinco milhões de euros foi quanto o Santander Totta investiu no ensino superior, no ano passado. O presidente executivo do banco afirma que o valor deverá aumentar este ano, apesar da crise. Na semana em que é divulgado o Relatório de Responsabilidade Social do banco, Vieira Monteiro afirma que uma das prioridades é financiar a mobilidade internacional dos alunos, que no ano passado receberam 30 mil bolsas de todos os bancos do grupo Santander. Em entrevista ao ETV lamenta o facto do governo brasileiro ter suspenso o apoio aos estudantes brasileiros que queiram vir estudar para Portugal.

Porque é que o ensino superior continua a ser prioridade na área da responsabilidade social do banco?
O banco elege 95% do seu orçamento de responsabilidade social para o ensino superior, porque considera que este nível de ensino é a fonte fundamental do desenvolvimento do país. Consideramos que é neste nível de ensino que se preparam as pessoas para conduzirem o país, no futuro. Por isso, o banco em vez de ter dirigido a sua responsabilidade social a vários segmentos, centralizou fundamentalmente o mecenato da responsabilidade social na área do ensino superior.

Investiram quase cinco milhões?
No ano passado, investimos 5,3 milhões de euros em responsabilidade social.

Apesar da crise mantém intenção de continuar este investimento?
Apesar da crise, temos a intenção de manter estes montantes. Penso, até, que este ano serão superiores.

Que tipos de apoios dão às instituições?
Os protocolos que celebramos com as várias universidades e com institutos politécnicos são fundamentalmente virados para prémios científicos e para premiar os melhores. A mobilidade internacional, concedendo bolsas a alunos para se movimentarem internacionalmente, é outra das prioridades. Um projecto que nasceu do lado das universidades. Fizemos um primeiro trabalho com o Brasil, apoiando 100 portugueses a ir para universidades brasileiras e outros 100 para vir para universidades portuguesas. Actualmente já são 200 o número de estudantes apoiados neste programa. Mas o grupo Santander rapidamente transformou esta ideia num dos seus grandes projectos e, hoje, temos uma mobilidade entre Portugal e Espanha com países da América Latina em montantes extremamente elevados, chegando às 30milbolsasatribuídasanualmente.

Construir um espaço ibero-americano do ensino superior é uma das prioridades?
Este espaço tem várias potencialidades: primeiro é um espaço das línguas da Península Ibérica – português e espanhol – o que é extremamente interessante, porque vivemos num mundo dominado pela língua inglesa. Criar este espaço de ensino superior é extremamente importante para elevar estas línguas à posição que devem ter no mundo. Sabemos que o espanhol é a terceira língua mais falada no mundo e o portuguesa 6.ª língua.

Este espaço poderá contribuir para criar um bloco económico forte?
Tem todas as possibilidades para isso. Acho que Portugal e Espanha são países que estão situados na Europa, países considerados desenvolvidos, apesar da crise e os países ibero-americanos são aqueles que nestes últimos anos mais têm crescido economicamente.

Acha que os actuais governos estão sensíveis a esta questão?
Acho que sim. Tal como os governos ibero-americanos na sua generalidade, tenho que dizer que, tanto nos países lusófonos como nos países que falam espanhol, a língua tem uma enorme força. As pessoas têm um sentimento muito forte pela sua língua. Aliás, no Brasil, os brasileiros aportuguesam todas as palavras inglesas e francesas e são até muito mais dinâmicos na utilização da língua do que nós.

Acha preocupante que o governo brasileiro tenha suspendido o apoio à vinda de brasileiros para Portugal?
Acho preocupante que Portugal tenha sido afastado desse programa, sobretudo porque era uma boa forma que os estudantes brasileiros tinham de conhecer Portugal, de verem as nossas universidades e de, muitos deles, conhecerem o país dos seus antepassados. Tenho pena que tenham terminado esse acordo. Mas espero que os governos português e brasileiro se entendam nessa matéria e o problema não volte a existir.

O que recebem em troca por esse investimento que fazem no ensino superior?
O que fazemos é um apoio dentro da responsabilidade social, apoiando assim as universidades e o crescimento dos países onde estamos. Estamos a fazer um investimento a médio e longo prazo. Não estamos a pensar neste momento que vamos obter isto ou aquilo. Acabam por fidelizar os futuros quadros do país? A médio e longo prazo, evidentemente que acabamos por fidelizar esses clientes. Um aluno que teve uma bolsa dada por nós, para ir para o Brasil, não se vai esquecer dessa bolsa e cria uma relação para a vida com o banco. Mas isso não é a razão principal. Mas a curto, médio e longo prazo esperamos que venha a ter efeitos.

Que opinião tem do ensino superior português?
Tem vindo a melhorar muito. Primeiro há uma dinâmica que não quero comparar com o tempo em que estudei, em que o número de alunos era muito reduzido. Hoje o ensino superior está perfeitamente massificado, quando antes era um bem de elite. O país mudou e hoje há uma muito maior preparação dos portugueses e essa é uma grande vitória da universidade. As universidades portuguesas sobem cada vez mais nos ‘rankings’ internacionais, o que significa que estão cada vez melhores.


PERFIL

Conhece a banca como ninguém
Trabalha na banca há 43 anos. Conhece como ninguém as administrações das instituições bancárias em Portugal. Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, não esquece os dias que viveu em plena crise académica da década de sessenta. António Vieira Monteiro é actualmente presidente executivo do Santander Totta, onde está há 13 anos. Dedicou grande parte da sua vida profissional à análise de risco no crédito. Mas foi responsável pelo lançamento do projecto das universidades do Santander Totta, que hoje já tem acordos com cerca de 50 instituições, sendo o 2º maior banco na concessão de crédito aos estudantes. Foi presidente do BNU e vice-presidente do BES e da Caixa Geral de Depósitos, onde era responsável pela internacionalização. Considera que a sua passagem pela universidade foi um dos momentos mais importantes da sua vida, assim como o momento que está a viver na liderança do Santander Totta. M.Q.





“É importante a fusão das universidades de Lisboa e Técnica”

Este processo de fusão deveria ser um exemplo a seguir por outras instituições de ensino superior, recomenda Vieira Monteiro.

O facto de vivermos um momento de excepção justifica alguns dos cortes que têm vindo a ser concretizados. Vieira Monteiro recorda o exemplo do Santander Totta que, só nos últimos dois anos, cortou 15% nos custos, tendo já metas ambiciosas nesta matéria, para executar nos próximos anos.

Está preocupado com o facto do Governo ter cortado em 30% as verbas para o ensino superior?
Actualmente, estamos a viver um momento de excepção do país e têm que ser tomadas medidas para controlar o défice orçamental. É evidente que em todas as áreas haverá cortes. Penso que devemos olhar também para toda esta situação como um aspecto positivo. Devemos olhar com alguma imaginação para aquilo que temos para podermos fazer ainda melhor do que fazíamos anteriormente. É preciso aproveitar estes momentos e ver onde há possibilidade ou não de melhorar a nossa produtividade e com isso conseguir ir ao encontro das necessidades e dos princípios básicos da universidade.

O seu banco conseguiria sobreviver com um corte de 30% em dois anos como aconteceu com as universidades?
O meu banco está habituado a fazer todos os anos imensos cortes. Temos uma política de controlo de custos muito grande e forte. Nos últimos três anos, baixámos quase 15% os nossos custos e para os próximos anos temos objectivos bastante fortes. Estamos sistematicamente a cortar os custos, porque essa é uma das poucas áreas em que temos alguma capacidade de intervenção. Em tudo o resto estamos muito sujeitos a forças exteriores do mercado. Para aumentar a nossa produtividade temos a obrigação de melhorar os nossos custos. O que chamamos de ‘mandíbulas positivas’, o que significa que os custos e as receitas se devem afastar cada vez mais e não cruzarem-se em sentido contrário.

Por isso têm tão bons resultados?
Somos um banco com bons resultados, recorrentemente, mas isso resulta de uma política clara que o banco tem e que nos permite chegar aí. Controlamos relativamente bem a nossa margem financeira, a nossa produção, o nosso crédito vencido. Somos muitos claros na defesa da qualidade do crédito que é fundamental nesta instituição e é isso que nos permite ter rácios de crédito vencido abaixo da média do sistema.

A redução das licenciaturas para três anos decorrente do processo de Bolonha não prejudicou a qualidade do ensino superior?
Não penso que diminua a qualidade. Penso que as licenciaturas passam a estar mais concentradas. Mas os diplomados têm a possibilidade de fazer o mestrado nos anos seguintes.

Mas recrutaria alguém com uma licenciatura de três anos?
Depende das funções que fosse desempenhar. Há uns anos atrás entrava-se na banca com o 5º ano do liceu. Actualmente, os bancos têm tendência para admitir sobretudo licenciados, o que mostra a evolução pela qual estão a passar.

Concorda com a fusão da Universidade de Lisboa, a sua instituição, com a Universidade Técnica? Não sente que a sua universidade perde identidade?
Acho que até ganha identidade e dimensão. Ver a minha escola transformada numa grande instituição europeia é importante. É um projecto importante para a afirmação da universidade portuguesa. Também é a possibilidade de se racionalizar custos que estão hoje dispersos pelas duas universidades.

Deveria haver mais fusões?
Acho que deveria haver mais movimentos desse género.

Deveriam fechar universidades?
A análise da rede de ensino superior tem que ser feita caso a caso. É preciso um estudo para ter em atenção os problemas regionais e das terras onde estão situadas as instituições. Só depois deveremos avançar para determinadas medidas.

As instituições são, em alguns casos, os principais motores económicos das regiões.
Nalguns casos é verdade. Há cidades e zonas em que a existência do ensino superior é fundamental para o desenvolvimento regional e isso tem que ser tido em atenção.




“Preocupa-me a sangria de quadros e o desemprego”

As medidas para estimular o emprego “não são suficientes”, senão o desemprego não estava nos níveis actuais, diz Vieira Monteiro.

Com o desemprego jovem a ultrapassar os 40%, é preciso criar medidas para reter os jovens. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo podem ser uma das saídas, sublinha o presidente do Santander Totta.

Preocupa-o o desemprego jovem que já atinge 42%? Como é que o Santander pode ajudar a promover a empregabilidade destes jovens?
Temos apoiado. Temos feito acordos com universidades no sentido de promover o empreendedorismo.

Acha que essa pode ser uma das respostas?
Esta pode ser uma das respostas. Valeria a pena o país reservar algumas verbas do QREN ou outras que fossem postas à disposição das universidades e dos jovens para lançarem projectos de empreendedorismo. Acho que isso era fundamental. Por um lado, prendia a Portugal os jovens, aproveitando tudo o que trazem quando têm 20 anos. Com certeza que iriam nascer empreendimentos que seriam muito valiosos para o país. Acho que se deveria fazer um esforço em dar aos jovens alguma coisa para os prender a Portugal porque estamos a fazer um investimento na sua formação que será aproveitado por outros países.

Preocupa-o esta sangria de quadros?
Preocupa-me a sangria de quadros e preocupa-me o nível de desemprego que tem o país. Acho que o país tem um nível de desemprego preocupante para todos nós. Como cidadãos deveríamos ter muita atenção a essa realidade.

O que é o resultado das medidas de racionalização da despesa…
É evidente que temos tido políticas de austeridade, de corte e de redução dos défices, mas simultaneamente deveríamos ter alguma política de desenvolvimento. Penso que o Governo está a pensar nesse sentido ao lançar todas estas medidas de investimento. Para além disso, é fundamental criar a confiança entre as pessoas. É impossível que a economia portuguesa se desenvolva se os vários agentes económicos, a começar pelos consumidores, não tiverem confiança no país em questão. Tem que existir confiança no futuro.

Medidas para a criação de emprego são suficientes?
Se calhar não são suficientes, senão o desemprego não crescia.

O caminho é estimular o empreendedorismo?
Não é só estimular o empreendedorismo. É preciso estimular, sobretudo o crescimento económico. O empreendedorismo é uma medida que vai resolver alguma coisa, mas não resolve o problema. É necessário o país ter uma política de desenvolvimento. Pessoas confiantes e uma política de desenvolvimento. Mas para isso são necessárias políticas do Governo e é preciso que os agentes económicos apostem no seu desenvolvimento. As várias instituições têm que estar preparadas para apoiar todo esse desenvolvimento, estando dispostas a dar crédito a esse desenvolvimento e a verdade é que estão. Os bancos tiveram períodos muito difíceis em que tiveram que fazer uma enorme desalavancagem relativamente à área do crédito. Tiveram que fazer, também, uma análise muito apurado da suas carteiras de crédito, aprovisionamentos fortes, capitalizar-se e aumentar os capitais próprios. Tudo isso foi feito no sistema bancário que hoje se encontra numa situação de poder apoiar a economia e todos, sem excepção, estão em condições de apoiar a economia e seguir nesse sentido.

As recentes medidas são a forma de conseguir o desenvolvimento económico?
Sobretudo as medidas relativamente ao IRC são receitas positivas. Pode dizer-se que são poucas, mas são positivas. Há que aproveitar.

Que três receitas sugeriria para sairmos da crise?
A aposta no empreendedorismo e na juventude. O investimento nos sectores considerados viáveis do país, que é pequeno e com pouco dinheiro. Fala-se muito da agricultura, do turismo e de todo o sector exportador. Temos também que voltar a ter uma indústria como deve ser, apostada na inovação e nas industrias tecnológicas e na alteração das chamadas indústrias tradicionais – que estão de parabéns, porque quer o têxtil, quer o calçado transformaram-se nestes últimos anos. Se conseguirmos ter confiança, apostar nos jovens e conseguir um desenvolvimento económico equilibrado do país, no que são os sectores fundamentais do seu desenvolvimento, penso que vamos conseguir sair da crise. 

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