domingo, 4 de março de 2012

UTL e UL, UL e UTL : via TSF, DN e portal comunicação UMinho



http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=1670508&audio_id=2340013

http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=1670508&audio_id=2340015

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=2341312

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=2341312&page=-1

e ainda

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2340878

e claro de http://umonline.uminho.pt/ModuleLeft.aspx?mdl=~/Modules/Clipping/NoticiaView.ascx&ItemID=57900&Mid=111&lang=pt-PT&pageid=1&tabid=0

com o link http://umonline.uminho.pt/uploads/clipping/NOT_57900/4054535740545357.pdf


"Estamos a falar desde sempre no sistema universitário" - Entrevista a António Cruz Ser...
domingo, 04-03-2012
Diário de Notícias
“O que esperamos é que desta discussão resulte a coragem de uma geração que entende que nesta altura as coisas não podem ficar como estão e que é preciso criar algumas roturas. A coragem de fazer coisas diferentes das que fazemos todos os dias. Não me resigno à ideia de que a esmagadora maioria das capitais europeias tenha uma universidade nas cem melhores do mundo e que Portugal não a tenha, nem na capital nem fora dela”
SAMPAIO DA NÓVOA REITOR DA UNIVERSIDADE CLÁSSICA DE LISBOA

JOÃO MARCELINO

A Universidade Clássica e a Universidade Técnica pretendem fundir-se num projeto que visa a criação de uma grande universidade em Lisboa, com uma dimensão média à escala global, já a partir de janeiro de 2013. Esse estabelecimento, com capacidade para 46 mil alunos, 3200 docentes e investigadores e um orçamento inicial de 293 milhões de euros, não pede nada ao Estado, a não ser que Lhe sejam dadas as condições para gerar um maior orçamento, considerado peça fundamental da iniciativa. Estamos a falar da ambição de ter cerca de 500 milhões de euros anuais, que resultariam de melhor gestão do património imobiliário, cuja titularidade a nova universidade reivindica, de mais autonomia e da constituição de um fundo público de 200 milhões a três anos. É esta a questão central das negociações que em breve vão iniciar-se com o Governo — e foi sobre este inovador projeto que os reitores da Universidade Clássica de Lisboa, professor António Sampaio da Nóvoa, e da Universidade Técnica, professor António Cruz Serra, aceitaram falar nesta entrevista ao DN e à TSF.

Professor Sampaio da Nóvoa, este projeto, como tem sido anunciado, dará corpo à maior universidade portuguesa e à quarta maior da Península Ibérica. O que se ganha com esta concentração a nível pedagógico, qualidade de ensino e capacidade de gestão?
António Sampaio da Nóvoa - Este projeto, em primeiro lugar, é feito a olhar para o País. Há muito que temos vindo a dizer que a rede do ensino superior é excessiva, que há instituições e cursos a mais. O diagnóstico está feito há muitos anos, mas era preciso passar à ação, não deixar que tudo fique na mesma para ver o que acontece. Dar este sinal ao Pais, e é preciso que o País esteja também connosco e que a sociedade portuguesa compreenda este projeto e nos apoie. A dimensão, os 46 mil alunos, é totalmente irrelevante para nós.

Por isso é que lhe perguntava: o que se ganha com a qualidade do ensino?
A. S. N. - O que se ganha, do ponto de vista pedagógico, é a criação de um espaço universitário em Lisboa, um espaço de mobilidade de estudantes, de vida académica, no sentido formal do termo, de cursos integrados, de cursos conjuntos, sobretudo de pós-graduação, mas progressivamente também de graduação. E ganha-se também muito numa outra dimensão essencial à vida universitária: a vida cultural, desportiva, associativa e as experiências de vida nas residências universitárias.

Mas tudo isso já existe...
A. S. N. - De forma limitada. A capacidade de criarmos uma maior integração destes serviços e a sua articulação com a cidade de Lisboa — esta será uma universidade urbana e aberta ao mundo — é absolutamente central. E creio que é na dimensão pedagógica e na dimensão científica, na articulação de grandes centros de investigação com as chamadas áreas de convergência, que hoje não estão dentro dos saberes tradicionais e que podem criar novas temáticas, novos trabalhos conjuntos, que iremos ganhar multo com esta integração. Não será de imediato, o processo vai demorar anos, mas é um processo dinâmico, de transformação E extraordinário o exemplo que estas duas universidades estão a dar ao País.

Professor Cruz Serra, se bem interpreto o que está sobre a mesa, a grande dificuldade será convencer o Governo a dar a este projeto as condições que ele reivindica... É assim?
António Cruz Serra - Pois, vamos ver. Tenho esperança de que não, de que a dificuldade não seja muito grande, porque, apesar das grandes dificuldades por que o País está a passar, os objetivos centrais no que respeita às restrições de financiamento público que temos em cima da mesa são muito claros. As restrições são diminuir o défice das contas públicas, fazer uma gestão racional dos recursos, etc.. E o que nós achamos que o Governo tem de dar para um projeto destes é a capacidade de termos uma gestão administrativa muito mais ágil do que a forma irracional como está a funcionar a burocracia na administração pública.

Pode dar algum exemplo nesse domínio?
A. C. S. - Posso dar imensos exemplos. O mais interessante, e que passa bem num programa destes, é talvez o dos terrenos da Universidade de Lisboa, cuja intenção era construir residências. Hoje percebe-se que podiam ser usados para gerar mais-valias, para construir residências noutros locais dentro do campus, e há muita burocracia a que estamos sujeitos para os usar, por precisarmos da autorização do ministro das Finanças para fazer a venda dos terrenos. Repare: não estou a falar de pedir dinheiro da dotação do Orçamento do Estado (OE) para fazer coisa alguma.

Portanto, este projeto não quer mais dinheiro do Estado?
A.C.S. - Este projeto gostaria de ter mais dinheiro do OE, mas sabemos que há uma enorme dificuldade em conseguir isso. Sabemos que as grandes fusões que ocorreram na Europa nos últimos anos tiveram como incentivo dos Governos uma dotação significativa. Nós compreendemos que o momento que o País atravessa não é de molde a podermos pedir um reforço da dotação do OE para fazer a fusão.

Mas pedem algo de inovador, ou seja, que esta nova universidade venha a titular todo o património das duas universidades. Isso significa uma nova maneira de encarar o funcionamento, até de gestão da universidade?
A. C. S. - É verdade. Mas no quadro legal em que nos movemos, se o que está escrito na lei fosse levado à prática, isso já devia acontecer. Temos muito do nosso património, que usamos há cem anos, há oitenta ou há menos tempo, que não está registado como deve ser.

E acreditam que conseguiriam dar uma melhor gestão a esse património?
A. C. S. - Sim! O registo do património tem consequências imediatas. Gosto de dar o exemplo do Instituto Superior Técnico, onde o facto de conseguirmos usar...

(interrompendo) ... Uma das escolas da Técnica...
A. C. S. - …a amortização de uma parte dos edifícios permite-nos demonstrar custos associados à estrutura que suporta a execução de projetos que conseguimos imputar aos projetos europeus. Este assunto do património tem múltiplas consequências, e uma é esta, outra é a capacidade de usar património que neste momento não é essencial para a utilização da universidade, que pode levar a melhores projetos e a sermos capazes de fazer coisas que a dotação do OE não nos permite fazer. O exemplo das residências de estudantes é ilustrativo: temos um conjunto de residências muito fraco e precisamos de alterar isso rapidamente. Com a nova lei das rendas, necessitamos de ter residências com dimensão dentro dos campus universitários. Compreendemos que não haja dotação do OE para construir residências, mas se usarmos um terreno que está disponível, que foi pensado há décadas para outra finalidade e que entretanto não resultou em nada, isso é absolutamente determinante. Neste momento, para utilizarmos o terreno, temos de ter autorização do ministro das Finanças para a venda; depois, que o ministro nos deixe ficar com o dinheiro para construir as novas residências que pretendemos; a seguir, quando o dinheiro entrar, que no ano em que se constrói a residência seja permitido violar a regra do equilíbrio orçamental. Neste processo de fusão, se o decreto-lei que cria a nova universidade nos permitir ter agilidade administrativa, estamos a dar um enorme contributo para termos uma melhor universidade em Lisboa, competir com as melhores universidades do mundo. O mercado das universidades, neste momento, é muito competitivo...

Qual é o ponto da situação da discussão deste projeto, tanto na Clássica como na Técnica?
S. N. - O debate está a ser muito dinâmico, muito intenso nos diversos domínios. É evidente que há aqui também um compromisso inicial. Os dois reitores, de algum modo, foram eleitos com este programa estratégico numa eleição democrática. Criou-se uma base de confiança sem a qual nada disto se faria. Este projeto exige uma enorme base de confiança entre as lideranças universitárias, no interior das academias, do País.

Esta discussão vai ser pacífica no mundo académico?
A.S.N. - Não, não (vai). Depois disso os conselhos gerais das universidades, que são os órgãos de governo central das universidades, aprovaram este documento e a sua discussão pública por unanimidade. Mas nada disto é pacífico. Estamos a falar da maior mudança no sistema universitário português desde sempre, e tudo isto resulta numa grande turbulência, num grande debate, numa grande intensidade, e é assim que tem de ser! O que esperamos é que desta discussão resulte a coragem de uma geração que entende que nesta altura as coisas não podem ficar como estão e que é preciso criar algumas ruturas. A coragem de fazer coisas diferentes das que fazemos todos os dias. Não me resigno à ideia de que a esmagadora maioria das capitais europeias tenha uma universidade nas cem melhores do mundo e que Portugal não a tenha, nem na capital nem fora dela. Mesmo o Porto, que é a melhor universidade portuguesa do ponto de vista dos rankings, está no 400.° lugar do ranking de Xangai! E nós estamos no 400.° e tal. Pacífico não vai ser, de certeza absoluta.

Professor Cruz Serra, chegou a este processo há menos tempo, tomou posse do cargo de reitor em dezembro...
A. C. S. - Em Janeiro, mas fui eleito em dezembro, é verdade.

Qual é o ponto da situação na Universidade Técnica?
A. C. S. - No caso da Técnica, e na eleição do próprio reitor, este foi um tema central.

Já vinha adquirido de trás, do anterior reitor...
A. C. S. - Vinha de trás e foi discutido profundamente durante o período de eleição. A minha proposta foi no sentido de avançarmos por este caminho. Naturalmente que a decisão final sobre a fusão é tomada pelos conselhos gerais e pelo Conselho Geral da Técnica em particular. Até lá existirá muito debate no meio académico. Nenhuma situação destas, com esta dimensão, será fácil no meio académico, onde temos milhares de investigadores treinados para inventar! (sorri)

Inventar… até da parte de outros estabelecimentos de ensino que estão de fora deste projeto e que também estão em Lisboa?
A. C.S. - E fora de Lisboa, seguramente!
A. S. N. - (interrompendo) É preciso perceber que, nesse aspeto, estamos a dar um sinal que acho útil para a qualificação do conjunto do sistema universitário português. As reações que temos tido até agora. dos outros colegas e de outras universidades, são muito positivas sobre esta matéria!

Este projeto pode fazer aparecer outros semelhantes noutras zonas do País?
A. C. S. - Julgo que sim, fará seguramente. De qualquer maneira, este projeto é diferente dos que possam aparecer noutras zonas do País, porque estas universidades são duas das melhores, das maiores e com melhores indicadores de desempenho. E não são universidades, por exemplo do ponto de vista financeiro, que estejam numa situação catastrófica ou em grande dificuldade como estarão outras, em que a redução sucessiva da dotação do OE dos últimos anos teve como consequência uma situação muito difícil. Este é um projeto diferente, e o que se pretende construir é uma universidade que vai ter grande impacto, quer a nível nacional quer a nível internacional. A Universidade Clássica tem 11 faculdades...
A. C. S. - (interrompendo) A Técnica tem sete!

São 18 na totalidade. Pode dar-se o caso de alguma dessas faculdades não querer integrar este projeto? Isso pode acontecer?
A. C. S. - Pode, pode acontecer. Os órgãos das faculdades terão de se pronunciar sobre o documento. Diria que, se o modelo de governação não tivesse sido apresentado como foi, prevendo uma grande autonomia para as escolas da universidade, haveria seguramente uma série de faculdades que se manifestariam violentamente contra a perda de autonomia. Isso é algo que não pode acontecer. Uma universidade com esta dimensão, com escolas de dimensão muito grande, com projetos de investigação, não pode perder a autonomia. Essa seria, para mim, a principal ameaça de um processo destes. Por isso estamos a lançar o debate com essa condição resolvida a priori, ou seja, as escolas vão manter a autonomia depois de criada a nova universidade. Depois haverá as pequenas coisas, os ódios antigos, as divisões que às vezes vêm de décadas entre atores em áreas científicas semelhantes das duas universidades, o receio dos tempos que correm.

Lateralmente, em relação aos funcionários, esta fusão poderá acarretar a perda de postos de trabalho?
A. S. N. - Não, não vai! E deixe-me voltar ainda à sua pergunta, as escolas não têm direito de veto sobre esta matéria, e não é por haver uma escola que não quer integrar ou que, na sua legitimidade, não quer apoiar este projeto que isso lhe dará o direito de veto. Os conselhos gerais terão de apreciar, do ponto de vista do seu senso politico na altura, se este processo poderá ir para a frente.

E parece-lhe que, neste momento, existe esse largo consenso, ou está a formar-se?
A. S. N. - Parece-me que se está a construir esse consenso, com muito cuidado, debate e esclarecimento junto de muitos atores. Muitas das conversas que temos tido têm sido, por exemplo, com os trabalhadores não docentes, porque nos parece importante dizer que nenhum de nós que está aqui sentado aceita que haja um único despedimento em resultado desta fusão. Temos um nível tão baixo de trabalhadores não docentes. São 2099 os funcionários não docentes, 1193 da Técnica e 906 da Clássica, e
3200 a soma dos docentes e investigadores de ambas as universidades, praticamente equivalentes, abaixo de todos os rácios e de todos os critérios aprovados por lei, que para nós é uma espécie de condição para avançar. Esperamos, aliás, que isto venha a resultar em melhores condições de trabalho, numa maior proteção dos seus empregos, etc.. Com os dirigentes não há nenhum problema sobre essa matéria, nomeadamente com os dirigentes políticos, reitores, vice-reitores, pró-reitores, etc., muitos dos quais desaparecem. Mas no que diz respeito aos trabalhadores, a proteção tem de ser total, integral.
A.C.S. - Deixe-me acrescentar que num processo destes se perguntará: “Se não se consegue reduzir pessoal, que ganhos há do ponto de vista de gestão eficiente de recursos?” Resposta: imensos ganhos! Neste momento, vivemos com uma enorme falta de recursos, e, portanto, da fusão das duas universidades, naturalmente, resultará a redução de alguns serviços, que estão duplicados. A capacidade de afetarmos esses trabalhadores noutras tarefas nas faculdades, onde há uma enorme falta de pessoal, resultará numa gestão muito mais eficiente dos recursos.

Quando terminar essa discussão no selo da academia, segue-se a negociação política como Governo, Essa é aparte mais sensível deste projeto?
A. C. S. - Eu diria que sim.

Sobretudo na titularidade do património?
A. C. S. - E no sermos capazes de garantir que a nova universidade vai ter regras de gestão administrativa mais ágeis do que aquelas que temos hoje. Este projeto é muito generoso por aquilo que acabou de ser dito também pelo professor Nóvoa. É um exemplo para o que não se consegue fazer noutros sectores da sociedade portuguesa e que era fundamental fazer-se. E atendendo a que o grande objetivo do nosso Governo e do senhor ministro das Finanças é reduzir o défice das contas públicas, se garantirmos que não lhe pedimos mais dinheiro, não aumentamos o prazo nos pagamentos aos fornecedores, estamos certos de que podemos ser uma boa instituição para ensaiar um modelo administrativo mais ágil na gestão de recursos, na aplicação da lei de enquadramento orçamental, na utilização da plataforma nacional de compras e na contratação pública. E temos a certeza de que somos um bom exemplo de como as universidades públicas podem fazer muito com o muito pouco que Portugal neste momento está a pôr em termos de dotação orçamental. Isso vai trazer dificuldades, naturalmente, mas é fundamental que o Governo apoie o projeto e o apoie desta forma.
A. S. N. - Não estamos a pedir a mudança de nenhum enquadramento legal, estamos a pedir que seja cumprida a lei. E há duas leis, uma chamada Constituição, que assegura a nossa autonomia, e há outra, chamada Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, que assegura que estas coisas de que estamos a falar, a gestão autónoma, a autonomia de gestão, a integração dos saldos, a titularidade do património, etc., estão na lei! Estamos apenas a pedir que a lei seja cumprida e não a pedir um privilégio em relação a alguma outra universidade.

Quando se diz que esta nova universidade gostaria de ter uma capacidade de gestão equivalente à das academias e universidades que optaram pelo regime de fundação, o que é que isso quer dizer exatamente?
A. S. N. - Quer dizer cumprir o regime jurídico das instituições do ensino superior, que consagra o conjunto de regras de autonomia de que acabei de falar. E normal que haja unia espécie de compromisso, ou de contrato, com o Governo durante o período de instalação desta nova universidade, que durará certamente três, quatro ou cinco anos, mas que haja um compromisso de que, depois, não somos surpreendidos todas as manhãs com despachos, com um normativo, com um regulamento, com um manual de instruções, com um decreto...

O interlocutor deste projeto, muito mais do que o ministro da Educação, é o ministro das Finanças?
A. S. N. - Sem dúvida. Este é um projeto que tem de ter o apoio do ministro da Educação, muito importante nesta matéria, mas tem de ter também o envolvimento do ministro das Finanças e do senhor primeiro-ministro. Está dito no documento: é um projeto que obviamente implica um compromisso forte do conjunto do Governo.

Professor Cruz Serra: é possível pensar que no atual estado do País será realista constituir aquele fundo de 200 milhões de euros a três anos que este projeto também aponta?
A. C. S. - A constituição do fundo é seguramente dos desafios mais difíceis que temos pela frente.

Um desafio lançado à sociedade civil?
A. C. S. - Exatamente. Estou certo de que vai ser muito complicado constituir o fundo, de que vai ser muito difícil convencer o Governo a colocar aqui matching funds, ou seja, desafiaria o ministro das Finanças, por cada curo que conseguíssemos para este fundo, a colocar outro euro. Foi aquilo que se fez na Finlândia, por exemplo, na constituição da última universidade que passou a fundação pública de direito privado. De qualquer maneira, nós temos de ser capazes de ir à sociedade civil, de falar com as empresas, de falar com os antigos alunos...


“Precisamos de competição em Lisboa para sermos melhores”


É satisfatória a ligação que existe entre as universidades e o tecido produtivo português, as empresas? O que é que a fusão, por exemplo, podia fazer?
A. C. S. – Penso que conseguiremos, quer no caso da ciência quer no empreendedorismo e na ligação empresarial, trazer os exemplos dos que melhor trabalham esses assuntos para o resto da universidade.

Estamos a falar do [Instituto Superior] Técnico também?
A. C. S. – Estamos. Tenho alguma dificuldade neste campo em falar do Técnico...

Não sei se o professor Nóvoa também subscreve isto...
A. S. N. – Estamos a falar do Técnico! Acho que é um exemplo extraordinário e que deve, obviamente, inspirar o conjunto da nova universidade nessa matéria, sem nenhuma hesitação.
A. C. S. – O Técnico definiu várias prioridades nos últimos anos e tem tido sempre uma estratégia de muito trabalho científico, muita ligação ao tecido produtivo e captação de receitas próprias em grande quantidade. Aquilo que gostaríamos era que a nova universidade fosse capaz de fazer o mesmo, mas é injusto dizer isso, porque o Técnico trabalha nas áreas da tecnologia em que é mais fácil arranjar parcerias. O Técnico, sozinho, tem um orçamento que é quase tão grande como o das outras universidades portuguesas. Tem uma capacidade instalada de investigadores. Tem cerca de mil doutorados que trabalham e fazem uma receita de projetos que ronda os cinquenta e tal milhões de euros.

Mas até o Técnico pode ganhar?
Pode. O Técnico tem, no seu plano estratégico, definido como prioridade o trabalho na área das ciências da saúde e da vida; até há poucos anos, tinha 20% de toda a produção científica nacional em todas as áreas científicas, e hoje tem um pouco menos. E a razão é muito simples: a importância da área das ciências da saúde e da vida todos os anos cresce, e muito! Hoje, temos uma parceria muito bem- sucedida entre o Técnico e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que poderá ser elevada a novos patamares, se trabalharmos em conjunto dentro da mesma universidade.

Professor Sampaio da Nóvoa: e o que é que as humanidades podem ganhar com esta ligação à Técnica?
A. S. N. – Passam a ser a escola de humanidades da maior universidade do País. As humanidades, por definição, são saberes transversais ao conjunto da universidade. Há dois anos, no quadro do nosso centenário, criámos na Universidade de Lisboa um projeto inovador, uma licenciatura em Estudos Gerais. Um pouco à americana, uma liberal education, uma formação de base humanista e científica transversal. O MIT, que é uma escola de tecnologia, tem uma grande estrutura de ciências sociais e de humanidades, como não podia deixar de ser! Não é possível conceber hoje a formação em qualquer área, na engenharia, na economia, na medicina, sem ter essa base de reflexão filosófica, ética, humanista, etc.. As humanidades, dentro da Universidade de Lisboa, são provavelmente uma das escolas que mais vão ganhar com este processo.

Este projeto pode levar à unificação de todo o ensino superior, pelo menos na região da Grande Lisboa?
A. C. S. – Não. Deve haver competição. Precisamos de competição em Lisboa para sermos melhores.

Mesmo no público?
A. C. S. – Mesmo no público. Penso que a existência de uma universidade como a Nova, que tem praticamente todas as valências que nós temos, naturalmente que numa dimensão mais pequena, tem sido muito importante. Ao Técnico faz bem que haja competição com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Nova; ao ISEG faz bem que haja competição com Económicas; à de Direito faz bem que haja competição com Direito da Nova. É absolutamente fundamental que os reitores das universidades e os dirigentes dos politécnicos sejam capazes de coordenar a oferta formativa, porque há uma oferta formativa irracional no sistema de ensino superior português.

E isso está para além da gestão de cada uma das escolas?
A. S. N. – Isso está para além. A matriz desta nova universidade é de incondicional abertura e de cooperação interinstitucional. É importante que se faça na região de Lisboa um plano de programas conjuntos de doutoramento, um plano de ação social, e também num conjunto de outras matérias. Mas uma unificação artificial de tudo isto numa única universidade seria uma coisa não só completamente totalitária, sem sentido, como seria negativo para o desenvolvimento da universidade em Lisboa, que queremos que seja uma grande universidade no mundo da língua e da cultura portuguesa, que hoje falta no mundo...

Falta no mundo ou falta em Portugal?
A. S. N.– Falta no mundo e falta em Portugal.

É que o mundo da língua portuguesa também tem o Brasil...
A. S. N. – Falta no mundo, porque mesmo as universidades brasileiras não têm tido essa vocação de se afirmar como grandes universidades da língua e da cultura portuguesas. Obviamente que a nossa colaboração com o Brasil é essencial, como com África, com a China, e em muitos outros planos, mas feita a partir deste património da língua e da cultura portuguesa.

E isso pode ter impacto na economia?
A. C. S. – Não tenho dúvida sobre isso!


“Não estamos disponíveis para nos mantermos numa espécie de luta pela sobrevivência”


Este projeto não visa apenas, ou fundamentalmente, lutar contra a diminuição dos orçamentos que o Estado tem imposto ao mundo académico?
A. C. S. – Não, de maneira alguma. Deixe- me responder- lhe um bocadinho no sentido em que vai a sua pergunta: considero que é absolutamente fundamental reorganizar o sistema de ensino superior português por causa da descida da dotação do Orçamento do Estado.

Também porque há escolas a mais?
A. C. S. – Exatamente.

E cursos sem dimensão?
A. C. S. – Exatamente. E isso é absolutamente fundamental. No caso destas duas universidades, essa não será a razão que permite explicar o processo. Se há universidades onde isso não é um problema de primeira ordem são estas, naturalmente outras, o Porto, Coimbra, a Nova, etc.. Mas não é essa a razão fundamental. E ser um processo que é dirigido de dentro para fora, ou seja, de dentro das universidades para a sociedade e para o Governo, faz que as coisas estejam colocadas num plano completamente diferente. Ninguém deve pensar que é possível resultar de um processo destes uma diminuição ainda maior da dotação do OE para o ensino superior português. Porque aquilo com que nós estamos a viver é uma vergonha, estamos a receber percapita um valor inferior àquilo que o Estado paga no ensino secundário, quer no público quer nos colégios com contratos de associação.

Nem nestes tempos importantes de regularização orçamental percebe isso?
A. C. S. – Não percebo! Em nenhum sítio do mundo o financiamento percapita de um aluno do ensino superior deve ser inferior ao do ensino secundário. Não compreendo! E depois, claro, posso dizer, compreendo que as dificuldades do País justifiquem que estejamos a receber, se calhar, 40% abaixo da média da OCDE. Digo se calhar porque os últimos números que temos são 30% abaixo da média da OCDE, mas isso foi antes de o mundo ter mudado!
A. S. N. – São dados de 2009.
A. C. S. – E, portanto, temos, de facto, uma dotação muito baixa. O que estamos a dizer é: somos capazes de funcionar com grande dificuldade nesta situação, claro que a fusão ajuda a usar melhor os recursos que temos. Nestas duas universidades há uma enorme complementaridade entre as áreas de formação. Não há duas faculdades iguais, que trabalhem na mesma área, não é necessário fundir...

Sem isso, esse projeto seria muito mais difícil?
A. C. S. – Muitíssimo mais difícil. Se quiserem mesmo que não haja fusão, é proporem a fusão de todas as universidades de Lisboa, porque a grande dificuldade será termos a duplicação das áreas formativas por todo o lado, e o projeto seria de enorme complexidade do ponto de vista organizacional. Aqui não há essa complexidade. Claro que há ganho de recursos, isso há.
A. S. N. – Estamos a procurar responder também à nova realidade do País. Não estamos disponíveis para nos mantermos, ano após ano, numa espécie de luta pela sobrevivência. Por outro lado, estamos a responder aos que dizem que as universidades não se reformam, que não têm capacidade interna de mudança e de projeção. Julgo que era o Torga que dizia, não sei se a propósito da crise académica de 1962, que comemora agora os 50 anos, que em Portugal não há pena de morte, mas há pena de vida. Nós estamos a fugir à nossa pena de vida. Precisamos que este seja um projeto com alma, com ambição de futuro, e é por isso que tem de ser consolidado dentro e fora das universidades. E é claro que nesse contexto é uma reação a um momento adverso do País, a orçamentos adversos, a um conjunto de dificuldades. Estamos a tentar fazer o que deve ser feito e que nos parece ser importante que se faça. Num projeto que, devo dizer- lhe, foi alimentado por muitas gerações de académicos e de intelectuais ao longo do século XX. Isto não é um projeto que nasça agora. O Orlando Ribeiro, por exemplo!; deliberações de senados dos anos 1950 sobre esta matéria. Ovitorino Nemésio. Houve muita gente que ao longo de gerações intelectuais foi percebendo que era importante esta ligação. Não podemos viver nesta divisão entre uma universidade clássica que tem as humanidades, os direitos, as saúdes e uma universidade técnica que tem as engenharias, as economias, etc.. Não é possível!

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The Honourable Schoolboy

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